sábado, 27 de abril de 2013





Melancolia (2)

Os erros cometidos pelo caminho, as saudades agregadas,
a busca por mim mesma só me fazem ter a certeza: 
O TEMPO É UMA FÁBRICA DE PASSADO...

(Francis Paula)

(Vovó, vovô e mamãe - amores eternos no tempo e no espaço de mim mesma)

Os óculos são instrumentos que ampliam a visão...
O amor também.


(Francis Paula)



Giro num movimento contrário aos acontecimentos...
Giro ao redor do que fui...
Giro em busca de mim...
Giro... simplesmente giro...
Tonteia-me o coração, bambeiam-se as pegadas...
Carrossel desenfreado, assim como o coração...
Onde estão todos?
O tempo... Foram levados. Sim, foram levados por você.
Algo ainda impregna minha alma que carrega o peso de todos os que fazem parte dela e que me formam...
Tantas reticências... Sim, há algo por dizer, mas o quê, afinal?
Ah, coração! Algibeira de memórias e amores.

(Francis Paula)



O ponto...
O ponto final...
O ponto afinal...
Simplesmente o ponto... que indica o derradeiro fim.
Ou seria um recomeço?!
Depende do ponto ou de mim? E qual é o final, afinal?

(Francis Paula)

Muitas vezes somos apenas os cacos do que fomos um dia, repletos de estilhaços de saudades e dores...
na madrugada tudo se torna tão claro... como a escuridão que nos ilumina...

(Francis Paula)



 Melancolia

Sempre que estava tristonha minha avó dizia:
Vai esquentar esses pés!

Hoje penso:
Meu Deus, poderiam inventar uma meia para aquecer o coração...

(Francis Paula)


A casa,
assim como a alma, 

também se despe, se mostra...
se revela... 

muitas vezes repleta do seu vazio material

e do desejo sufocado. 

(Francis Paula)


Em meio a tantas luzes... Qual será a tua?

(Francis Paula)

sexta-feira, 26 de abril de 2013


O PONTO SALIENTE DA PAIXÃO

Os compassos e descompassos eram imensos, mas o músico insistia em sua obra magistral. Mesmo que lhe custasse a própria vida...
Dramático?! Para alguns até poderia ser, mas para ele mostrava-se como um objetivo de toda uma caminhada.
Sim, anos de estudo, dedicação, sangue, alma, sustenidos e bemóis. Fora as distâncias de muitos, ausências de outros, inclusive de si mesmo e muitos, muitos cadernos, partituras e claves.
O piano mostrara-se como um dos companheiros mais fiéis além dos compositores que havia se debruçado por tanto tempo. As linhas de cada compasso foram sua cama e por diversas vezes, por ela passaram corpos não tão musicais, mas também alguns carregados de pausas extremamente necessárias à sua música particular.
Entre um pedido e outro, entre olhares... entre notas... graves ou agudamente precisas... sua obra magistral ganhava corpo. Em alguns momentos tudo era desmembrado e reiniciava-se toda a criação.
Tornara-se sua obsessão maior. A melhor. A única.
Agora, enquanto caminhava, os dedos ágeis procuravam pelo ar a melodia, inúmeros sons a sua volta pareciam desaparecer e seu coração... O coração não apenas batia. Passava a ritmar seu silencio assustadoramente musical e interior.
Para os outros... Sempre os outros. Tudo não passava de loucura: "Onde já se viu"?!, "Isolado do mundo". " Nãos e pode sequer convidá-lo para algum evento social"., "Estranho esse comportamento"., "Por que é assim"?.
Ninguém compreendia a música que o guiava. Acredito que nem ele mesmo. Quanto a loucura... Vive-se num mundo tão ou infinitamente mais louco que recuso-me a julgá-lo. Preferível ouvi-lo.... Com os olhos e o coração, não tão musical, mas ávido por melodias diferentes das usuais.
E enquanto pensava isso, ele novamente estava a articular seus compassos e descompassos diários.
De hoje não passaria, isolou-se ainda mais em seu ritmado desejo e entregou-se de corpo e alma para sua criação: novos papéis, reestruturas, sentidos e inúmeros sons... Ela o perseguia, o tomara conta por completo...
Horas a fio e deram-se totalmente envolvidos, como corpos num frenético desejo, tensão e vontade.
Lá fora nada mais importava. Somente sua criação, seu ápice, seu gozo vertente em altos e baixos, consonantes e dissonantes. Ambos tomavam-se, bebiam-se, o ponto saliente da paixão que margeava a vida e a morte. Anos e anos de encontros e desencontros e aquele mostrava-se como o momento exato de concretizarem-se: o criador e a criatura.
E assim fez-se... Ao amanhecer, o encontraram caído entre tantos acordes, os olhos vidrados pelo desejo consumado em seu último compasso, mas com a pena e os dedos cravados na paixão...

(Francis Paula)

quarta-feira, 24 de abril de 2013


AOS OLHOS DA CIDADE ou "POR ENTRE ELA MESMA"

A cidade acordava, ganhava pouco a pouco um ritmo ágil e acelerado, enquanto um turbilhão de pensamentos já rodavam em sua mente.
Para alguns, a noite teria sido curta ao extremo, mas ela... Ela pensou como longa demais... assim como o dia anterior.
O dia anterior havia começado com o frio de um outono ensolarado... Quase uma antítese: o frio de uma manhã ensolarada.
As pessoas que iam e vinham, mesmo num feriado, o café que aquecia o peito, o tilintar das xícaras na padaria e o burburinho ao longe... imperceptível decifrá-los.
Levantar, pagar a conta: Obrigada, volte sempre! O sorriso da balconista. O que esconderia aquela mulher? Quais seriam suas vontades atrás daquele balcão?
Passos, ganhar a rua, o trajeto de volta... O que há neste mundo? Seria apenas o que um cansado olhar pode captar?
Queria mais... Queria além... mas o quê, afinal?
O cão atravessava o destino... Ou seria apenas a rua? Assim como nós: a rua ou o destino?
Alguém poderia respondê-la?
As crianças pensavam nas pipas que soltariam mais tarde. Saudade. Era tão bom o tempo em que a maior preocupação seria o melhor momento para colorir o céu com as pipas.
"E assim é a infância: como pipas a rodopiar no céu, mas de repente soltam-se das mãos e ficam apenas os coloridos em nossas mentes"...
Buzinas, sinal, atenção! Atenção?! Até quando?
A mulher segurava o vestido que o vento insistia em levantar. Ainda bem que ninguém viu. Afinal, somos todos invisíveis uns aos outros. Até mesmo invisíveis ao amor.
Tentamos nos blindar das dores, dos nãos, de nós e vivemos uma teia superficial, frágil e que não nos protege da dor... pelo contrário, nos expõe mais e mais.
Em casa, o silêncio exterior e o caos giratório dentro de cada um. Ou não. Muitos são fortes... extremamente fortes, mas ela... Ela não era ou simplesmente não fingia uma força que poderia agredir a si e ao mundo.
E cercada de imagens e pensamentos, o dia passou. E a noite inquietante de frio chegava, mantendo aquecida as análises diurnas. E uma nova antítese...
Precisava dormir, mas um novo café fez-se presente. Olhares. a noite longa... "Longa jornada noite a dentro", parafraseando o livro que há pouco vira na estante, em meio aos outros tantos... Assim como nós, na multidão diária.
Resolvera escrever, mas o turbilhão dentro de si... O turbilhão de reflexões, de muitos eus e de outros também.
E a cidade acordava novamente, pouco a pouco ganhava mais ritmo.
A rotina.
Seus olhos já despertos, a alma sonolenta e o tímido sol entre as buzinas e pessoas...
E ela retomava seu destino. Ou seria simplesmente a rua?!
(Francis Paula)



terça-feira, 23 de abril de 2013

Des(controle)
Des(compasso)
Des(medida)
Des(atino)
Des(coberta)
Des(enlace)

com a confusão nos olhos
e o desc(concerto) na alma
Perder-se para achar-se.

Des(contar)
Des(moronar)
Des(fazer)
Des(construir)

e novamente perder-se
achar-se
e quem sabe
Des(enganar-se)
e des(mentir).

(Francis Paula)

Em homenagem a Joy Division...

Metade do caminho,
metade da página,
metade sonho,
metade realidade,
metade espera,
metade chegada...
metade... ou
à margem de mim e
à beira do caos...
Um quase tudo ou um quase nada.
Metade, margem, quase...
Tempo, não brinque mais comigo
eu já saí a sua procura.
Quanta saudade...
Tudo muda, tudo passa... Até o andamento desse texto.
Assim como eu e você em nós...
E sentir que tudo passa é uma das sensações mais estranhas que podem existir

Percebo que tornei-me um caderno de momentos e pessoas...
As ausências, as partidas, o dia após dia.

Amigos que se vão antes do tempo ou não...
As chegadas... Outras felicidades que surgem.
Quanta saudade...

Ah, tempo! Não brinque mais comigo
afinal, não posso alcança-lo.
(Francis Paula)


Eram apenas cinco... É tudo tão relativo...
Para aqueles que esperam, cinco minutos parecem eternos.
Para os que estão a beira do abismo, tornam-se cinco segundos a queda...
Eram apenas cinco...
Cinco anos? Cinco pessoas? Cinco segredos? Cinco experiências?
Não, não era nada disso.
Eram apenas 5% de nossos sonhos, 5% de toda uma história.
Agora me restam 100% do retorno, 100% do melhor de mim, olhar para seus rostos repletos 100% de sonhos e construir um futuro por inteiro... Quem sabe.
No fundo do corredor escuro, a porta se entreabria e o som dos sorrisos e vozes tomava 100% da minha alma novamente.
Um livro em cima da carteira, um olhar: "Tia, olha que livro legal eu peguei pra ler"...
Sim, para o futuro ainda resta uma esperança. Meu oásis resiste em 100%...
E os 5%?! Ah, quer realmente saber?!...
Eu quero o amanhã por inteiro.
(Francis Paula)


domingo, 21 de abril de 2013


domingo, 7 de abril de 2013


sábado, 6 de abril de 2013

"Muitos querem a medida do tempo, da saudade, do trabalho, da diversão, da distância, das roupas...

Ah, eu quero é sentir a desmedida da vida."

(Francis Paula)


quinta-feira, 4 de abril de 2013


Até porque viver e amar é desdobrar-se no universo...
(Francis Paula - em meio ao caos)


terça-feira, 2 de abril de 2013

O RENASCER DAS CINZAS
(Francis Paula)

A canção afirmava que o tempo engana aqueles que pensam que sabem demais...
Paralelo a isso ela teimava em refletir o quanto muitos ainda viveriam naquela condição de “donos da verdade”?!
Palavras... Palavras... Sim, as mesmas palavras que tanto estudara se mostravam como armas preciosas e perigosas.
Até quando os mistérios articulados pela mente e desenhados pelos lábios se mostrariam como mecanismos de um jogo de xadrez e que nós, muitas vezes, somos as peças de manuseio de um grupo?!...
Sim, o poder... O titã “Cronos”, que com o medo de ter arrancado o seu “poder”, devorava os filhos um a um.
Ou seja, até quando “Cronos” nos devorará, nos jogará em meio as palavras daqueles que se julgam senhores de suas épocas, lugares ou instituições...
Nas ruas, as pessoas correm, sufocam desejos, calam-se ou despejam seus mistérios, suas palavras sem ao menos pensar no jogo ao qual estamos a fazer parte.. ou não?!
Quanto mais pensava, ela refletia sobre as palavras e sobre Cronos, o titã... E que somente Zeus, único filho que o enganou e sobreviveu, aliado à “Prudência”, o fizeram vomitar seus filhos (seria o passado personificado?) e assim, trazer à tona as verdades que poderiam fazer a diferença.
Não, não se pode abaixar a cabeça. Não, não se pode enganar pelas “palavras-mistério”, pelo jogo de xadrez entre a vida e a vida... A morte aqui não conta.
Não, não se pode fechar os olhos... Como fênix, renascer das cinzas e assim, é preferível terminar não com melancolia, mas com a multiplicidade das pessoas de uma certa “Pessoa”:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, os caminhos que nos levam aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la, ficaremos à margem de nós mesmos”.
Infelizmente, é tudo um grande jogo pelo poder.... Ela espera, sinceramente, que não.

terça-feira, 26 de março de 2013

Até porque o amor também não deixa ser uma caminhada entre inúmeros zumbis...
(Francis Paula)

 

Vivemos num mundo que muitos se perguntam sobre o que é a morte.
Eu prefiro perguntar: Afinal, o que é a vida?...
(Francis Paula)

 

domingo, 24 de março de 2013

Certa vez escrevi que "Entre o ser e o estar permanece o meu coração"...

Hoje reescrevo que "Entre o ser, o estar e o permanecer... Sim, eu TENHO um coração" e o seu interior traz as inúmeras lembranças, amores, imagens, saudades de tudo o que se foi e o que virá...

Entre todos os Verbos Existenciais, Perceptivos, Locativos... Entre toda a Gramática perpassa sangue, vida e sonhos que jamais serão compreendidos ou expressos por qualquer palavra...

Sim, por entre todas as palavras, gramáticas e sentidos HÁ DE SEMPRE VIVER E REVIVER O MEU CORAÇÃO...
(Francis Paula)




sexta-feira, 22 de março de 2013


A VITRINE OU... O QUANTO INVISÍVEIS SOMOS.

Aproximava-se do almoço e apressadamente andava para resolver algumas pendências do dia. Saíra da escola bem rápido, um dois, três quarteirões e estava no centro da cidade... Carros, buzinas, pessoas, uma greve na cidade, os comentários difusos das calçadas, o sol forte e do outro lado da rua observo lentamente uma moça a trabalhar na montagem da vitrine.
De repente tudo ganhou uma outra velocidade, um ritmo diferente e uma câmera lenta tomou alguns instantes do meu olhar...
A moça, num ar entre melancolia e cansaço, retirava e colocava sapatos na vitrine. Por vezes parava, olhava para fora da loja, mas parecia nada observar. Um semblante difuso, assim como muitos que passavam por mim. E eu? Nesse momento eu também olhava para a vitrine, mas para muito além do vidro ou dos sapatos caros.
Observei um pouco mais e surgiu a imagem de uma senhora, mais ou menos sessenta anos, que sempre perambula por aquele lugar... Sim, ela fora abandonada pela família após um derrame e vivia das migalhas de uma sociedade doente que nos abriga.
A senhora olhava a vitrine, na verdade, não olhava, estacionava seu olhar no vidro transparente e também entre melancolia e cansaço, parecia adentrar um universo além dos sapatos que eram expostos. Abaixava a cabeça, olhava os braços, segurava fortemente duas bolsas plásticas e respirava de forma profunda.
Do outro lado da rua, eu continuava a olhar, mas agora para dentro da "vitrine" que há em mim, além do que exponho diariamente para tantos outros olhares difusos, tal como as vozes da calçada.
Três pessoas, a moça da loja, a senhora e eu... Entre nós uma vitrine, um vidro transparente, uma rua, a calçada... Mais do que isso, dores, desejos, segredos, vontades e uma solidão cotidiana...
Seria realmente o vidro invisível? Ou nossos rostos anônimos?
De repente um carro buzina, meio que acordo dessa catarse, olho para os lados... A moça saíra da vitrine, a senhora voltara a andar e eu seguiria meu caminho. Qual caminho?
Isso não importa muito agora, meus afazeres me esperam. Mas e a moça e a senhora? Seguiriam seus caminhos? Quais? Isso também não importaria?
Somos mistérios, somos invisíveis, somos humanos... incompletos e eternamente crianças na frente de uma vitrine... Mesmo que seja a da nossa própria alma.




domingo, 10 de março de 2013


O Céu e o Inferno moram em nós... Acho que jogamos amarelinha pela vida afora...
(Francis Paula)


sábado, 9 de março de 2013

terça-feira, 5 de março de 2013


O VOO DA BORBOLETA

Como professora, confesso que já presenciei algumas situações extremamente emocionantes, mas a que recordo agora... Ah, será inesquecível...
Depois de dois anos numa localidade extremamente complicada, mas enriquecedora no aprendizado com os alunos, fui remanejada para outra unidade de ensino e no meu último dia (dia de recolher pertences e partir), vivenciei uma experiência talvez muito maior do que todas as discussões e trabalhos realizados em sala de aula e muitas vezes, incompreendidos pela organização da escola.
Literalmente, após a despedida dos alunos (dias antes), saí silenciosamente pelo corredor, com meus livros e cadernos, olhei para trás e respirei fundo... Uma confusão de saudade, indignação e o desejo que aqueles meninos que deixei na escola, seguissem seus caminhos com a certeza de que é possível lutar.
Ao chegar no ponto de ônibus, uma senhora e seu filho, pouco mais de seis anos de idade, estavam ao meu lado. Ela, sem uma perna que foi perdida num acidente, via o filho brincar e comentar: "Essa moça foi professora do meu irmão"!
Sorri para os dois e vi que a senhora estava ligeiramente embriagada e dizia que a vida e os filhos eram as únicas coisas que lhe restaram e agradeceu pelo trabalho que havia feito com o filho mais velho... Ela também reclamava da dor e eu a observava atentamente...
De repente, uma borboleta quase branca passou por nós e o menino gritou: "Mamãe, uma borboleta branca! Posso fazer um pedido"?
"Claro, meu filho"!
Ele fechou os olhinhos infantis e tornou a falar... "Já fiz"!
"Qual foi"? - perguntou a mãe.
E o pequeno afirmou: "Eu só queria que você fosse feliz"...
Sem falarmos mais nada, ele tornava a pular e sorrir quando meu ônibus chegou. Acenei, entrei... Sim, aqueles meninos seguiriam seus caminhos... mas o meu trabalho estaria apenas recomeçando num novo lugar...

domingo, 3 de março de 2013

A MENINA QUE TEIMAVA EM SER
(Francis Paula)

"São tempos difíceis para os sonhadores"- dizia a personagem do filme...
- Muito! - eu pensei enquanto desligava a televisão e interrompia aquele correr de imagens que começavam a reverberam em meu interior.
Tempos difíceis... Caminhei até a varanda e me coloquei a observar as luzes ao longe, as casas, os prédios, os carros e as pessoas que passavam.
- Quantos ali pensariam em suas dores? Quantos questionariam sua existência? Quem realmente saberia a diferença entre viver e existir? - nem eu realmente me reconheço pela vida.
As palavras saltavam pelo céu da boca com assombro, um purgar de dores que iriam além do físico e do supostamente imposto como"moral".
De repente lembrei de uma menina que costumava andar sem reparar nas pedras, nos tropeços que poderiam ocorrer pelas calçadas. Ela observava tudo a sua volta, uma eterna descoberta e se porventura caísse e lhe ferisse o joelho, limpava, secava as lágrimas mas, o desejo da descoberta, a confiança no caminho a faziam levantar e seguir.
"A confiança, a esperança no outro... Em qual esquina isso se perdeu"?
A medida que a garotinha crescia, "seres estranhos" surgiam e começavam a ganhar espaço pelas calçadas e o que inicialmente era descoberta ganhou ares de medo e de mera reprodução do real...
Descobrir? Para quê? Era perigoso demais!
Vozes difusas entremeavam sua caminhada e sem perceber, crescia e nasciam dores que sufocavam sua alma...
- Não, eu não quero ser uma cópia! Não, eu preciso descobrir o que sou! - bradava a menina...
E a calçada começou a segurar-lhe os pés!
- Me solte! Deixe que eu siga! O que fiz para que me impeça de andar?!
E o silêncio se prolongava... O tempo fechou e choveu... Choveu muito, dias e anos a fio...
Encharcada de tudo e cercada pelas vozes da mera reprodução, foi silenciada...
E ela crescia... parada... imóvel em si mesma.
Pensei que minhas lembranças parariam aí, mas ao olhar para baixo, na calçada, lá estava a menina e acenando para mim!
- O que faz aí? - perguntei.
- Não acredito que ainda não percebeu? Estou esperando por você todo esse tempo.
- Eu? O que posso fazer? Nem sei quem você é?
- Como não sabe? Em qual esquina me deixou sozinha? Não se lembra? E o joelho esfolado? As pedrinhas que chutávamos pelas ruas?
Um calor ruborizou-me a face.
- Venha! Esqueça as vozes difusas, as regras, as cópias! Desça e nos resgate, Eu ainda não sei quem sou, mas qual o problema nisso? - ela sorriu e acenou novamente.
Sem muito pensar, desci as escadas e ficamos frente a frente. A abracei e um calor nos tomou os corpos. Ela segurou minhas mãos e tomou-me pelo caminho.
A lua iluminava a calçada, ainda difusa, as vozes ainda existiam mas, pouco me importavam agora.
De repente, estávamos novamente juntas, numa só alma e senti meus pés se moverem novamente e segui... melhor dizendo: SEGUIREMOS adiante.
Sim, a menina sou eu e ela é a mulher que me tornei e se os tempos são difíceis para os sonhadores, sonhemos mais, realizemos mais... a caminho do infinito.


Perdeu-se no emaranhado de si mesmo. Era uma grande sala repleta de fios... Fios do passado que o persegue, do presente inacabado e de um futuro tão incerto quanto a porta de saída.
Era preciso tomar o fio condutor de seu caminho... Mas eram muitos. Um labirinto dentro de si mesmo.
Perdeu-se. Clamava por "Ariadne"... Precisava do fio condutor, de um oráculo que mostrasse que o amor é capaz de vencer, afinal.
Não, não,
"Ariadne"! Não corte o fio... Guia-me pelo meu próprio labirinto.
Mas por enquanto, parafraseando o poeta e não a mitologia: "Perdi-me dentro de mim"...
Até qualquer dia, "Ariadne"...





Mulher...
Entre o céu e a terra
o sagrado e o profano
o querer e o não querer
Entre todos os sentidos...
o ventre
o corpo
a alma...
O concreto e o abstrato
o sim e o não.
(Francis Paula)


Em meio aos corpos mudos que ocupam e circulam pelas cidades, 
meu próprio corpo busca as palavras que teimam em arder e 
construir um futuro que a realidade insiste em querer silenciar...
Não, o mundo não pode ser simplesmente um transitar de corpos,
mas sim um confluir de almas e plenos desejos despertos.

(Francis Paula)


Ao rever a belíssima produção "Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore" lembrei da maior responsável pela minha paixão pela leitura: minha mãe...
Minha mente produziu simultaneamente um filme que resgatou o primeiro livro que ela me presenteou, mesmo distante devido ao trabalho em outra cidade: "História meio ao contrário". E sua voz tão firme dizia: agora vc é uma mocinha e sabe ler... sua avó me contou... Comece! Sinta... irei trabalhar!
Puxa, quantas vezes fiquei chateada porque estava longe, trabalhava em tantas escolas, trazia seus diários para preencher quando vinha nos visitar, cadernos de alunos (sim, naquela época se fazia isso - lá pelos anos 80...)!!!
Eu fazia cara emburrada e minhas avós pegavam docemente minha mão (e de minha irmã também) e nos levavam para brincar, lanchar, conversar... E eu, ah, eu ficava, por um tempo, observando aquela mulher atenta em seus afazeres, tão distante, tão próxima, tão severa e sentia tanto receio de incomoda-la, dizer que te amo, admiro...
Mas as peraltices de criança falavam alto e seguia para perturbar minha irmã!
Os anos passaram, vieram outros acontecimentos, descobertas, novos livros... Ah, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Machado de Assis, Victor Hugo, Cervantes... Ah, tantos e tantos... Tantos sonhos... E eu continuava a observar aquela mulher, já mais velha, em seus afazeres...
Ela, mesmo severa, olhava e perguntava: o que achou do poema "Toada" de Bandeira? e eu, numa mistura de nervosismo, alegria, admiração e amor (pela poesia e por ela) começava a falar, falar, falar e era observada por vc: mãe!
A partir daí comecei a auxilia-la nos planejamentos e sentia porque ela se debruçava tanto naquele universo... E então, a raiva passou! A saudade jamais, mas aquele ciúme bobo sim...
Hoje, suas limitações físicas, de leitura e até mesmo cognitivas são mal interpretadas por algumas pessoas... Sua dor também é um pouco minha, mas o melhor de tudo é ter total certeza do porquê de tudo aquilo... De tudo o que vivemos.
Para mim, você sempre será aquela mulher altiva, severa e que pela distância observei seu trabalho e dessa forma me contaminou com seu amor pela leitura e pelo trabalho...
MÃE, obrigada... Obrigada por fazer-me PROFESSORA! E mesmo durona, obrigada por fazer-me quem sou: carne e coração! Eu te amo!

Futuro?!
Sim, caminhava sempre em frente, caminhava a olhos vistos,
caminhava rumo ao futuro,
mas...
a vida era uma rua sem saída. E deu-se um ponto final.
(Francis Paula)