domingo, 3 de agosto de 2014



Assim como o vento leva as pétalas caídas,
Sinto minha alma errante...
Novamente a errar.
No silêncio que sigo,
Repito as palavras que eram suas,
Não as minhas...
E sempre as mesmas.
As imagens se fazem ligeiras, 
Confundem meus olhos
E perturbam meu coração.
Ah... o coração...
Desnudo, aberto,
A espera dos meus eus
Que saíram a procura de nós.
(Francis Paula)
Daria até uma crônica...
Lembro do dia que fui ao correio (sim, ele está até hoje em reforma) e com muitos setores fora de seus respectivos lugares, vi a famosa "posta-restante". Ao esperar a atendente comecei a cantarolar a canção "Futuros Amantes".
A moça, meio que surpresa, sorriu e cantou um trecho junto comigo.
Não conversamos absolutamente nada, mas quem sabe no íntimo suspirássemos por saber que a pressa é a maior inimiga dos grandes amores...
O verdadeiro amor pode ficar em silêncio, escondido no meio da posta-restante, a espera de quem vá busca-lo para sempre. (Francis Paula)
"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar"... (Chico Buarque)

sexta-feira, 1 de agosto de 2014




“QUANTO CUSTA UMA SAUDADE”? (Um presente para Marcelo Eugênio e seus gatos)
(Francis Paula)


Hoje, pela manhã, ao abrir o facebook, li um fato vivido por um amigo. 
Ele dizia que ao se dirigir até o supermercado, viu um homem, em situação de rua, proteger em seus braços um cão. Lembrou-se de seus gatos, que agora não mais estavam presentes em sua vida, e decidiu comprar ração para ajudar o homem...
Ao chegar às prateleiras, percebeu que a ração para cães havia sido trocada de lugar, estava agora no lado onde sempre achava para seus gatos de estimação. Abaixou-se para pegar e num misto de surpresa e emoção encontrou um cartaz escrito: SAUDADE.
Esse fato ficou dentro de mim por vários dias. Pensei em tantas notícias, pessoas, momentos...
Pensei muito e algo me veio à mente: “Quanto custa uma saudade”?
Sim... A placa estava lá, na prateleira. Parecia indicar um espaço para um produto. Mas na verdade era um espaço vazio apenas.
Seria isso a saudade: um espaço vazio? 
Lembrei-me de quantos espaços me construo. Revirei meu coração na pergunta: “Quantos espaços existem pela vida a fora”?
Pensei no cartazista. O que o levou a escrever a palavra “SAUDADE”? Estaria ele (ou ela) sentindo falta de alguém? De um momento? Tomado por um sentimento apenas e sem razão concreta?
Por favor, saudade é concreta? Se for, não quero abraça-la mais.
E meu amigo que encontrou o cartaz? Por que logo ele, tão tomado de saudade, precisou vê-la? Seria destino? Um sinal? Ou apenas mais um na multidão de solitários cercados de almas, nas grandes cidades?
Tornei a imaginar a prateleira... O espaço vazio da “saudade”. Talvez seja a melhor personificação da ideia: um espaço que é ocupado pela silenciosa presença de uma ausência.
Ou como disse um poeta solitário e vagabundo: “A memória é invenção do diabo”... 
Vou além: o diabo somos nós que sucumbimos de emoção, silêncio e amores por todas as existências possíveis e que nos preenchem das dores e delícias das saudades de que somos feitos.